O artista indígena Xadalu Tupã Jekupé foi um dos vencedores do Prêmio FOCO ArtRio 2024, ao lado de Carchíris, Cris Peres, 1desali e Patfudyda. Nascido em Alegrete (RS), no pampa gaúcho, tem sua origem Guarani ligada aos indígenas que historicamente habitaram as margens do Rio Ibirapuitã, na antiga terra Ararenguá: os Guarani Mbyá, Charrua, Minuano, Jaro e Mbone.
“Eu começo a trabalhar com arte no final dos anos 1990 e início dos anos 2000, já com arte indígena, nas ruas de Porto Alegre, quando não se falava em arte indígena contemporânea. Então foi um movimento nosso que depois acabou indo para as galerias e instituições”, conta.
Xadalu aborda a tensão entre a cultura indígena e ocidental nas cidades, apagamento da cultura indígena na região oeste do Rio Grande do Sul, onde diversas etnias foram dizimadas. Em suas obras, o artista utiliza a serigrafia, a pintura, a fotografia e diversos objetos.
“Minha pesquisa atual parte da cosmologia da nossa comunidade, que é como uma cosmologia guarani, onde se tem as divisões dos mundos, e essas transições onde se fala do primeiro mundo, da destruição deste primeiro mundo e a construção do segundo mundo, que é a terra que vivemos. Este tema trata muito de catequização, colonização, dos processos de apagamento da cultura indígena e principalmente falando em tempo, espaço e memória. Então, as obras têm um caráter de pesquisa histórica, mas, dentro dessa historicidade, a gente vai ter também a cosmologia permeando esse labirinto dentro da obra”.
Durante a ArtRio 2024, no estande do Prêmio FOCO, o artista apresentou obras importantes que tratam do território. O trabalho “Terra à Vista” foi comissionado pelo Instituto Goeth e depois ela participou do Bienal das Amazônias. “Ele fala muito desta divisão do território, quando o colonizador chega na América do Sul. Nós vivíamos em um território sem fronteiras, que depois acabam sendo colocadas, dividindo os povos, enfraquecendo. É onde se começam os processos de apagamento, ao se diferenciar a sociedade indígena com a sociedade ocidental”. A segunda obra é “Jardim Guarani”, uma releitura das calçadas portuguesas, que aborda o território indígena, como a cidade de hoje. “Para nós, continua sendo o território indígena, porque os espíritos guardam esses espaços”.
Como parte do Prêmio FOCO, Xadalu participa de um residência na Escola das Artes, Universidade Católica Portuguesa, Porto, Portugal. “É uma imensa felicidade participar desta residência, porque eu nunca tinha visitei Portugal, e agora a gente visita como uma residência, com foco na pesquisa da terra indígena Guararenguá, onde eu nasci, no qual era um pátio jesuíta, e depois da Guerra Guaranítica acaba virando colônia portuguesa. Então teve diversas guerras e diversos acontecimentos naquela região, da disputa de território entre portugueses e indígenas, e uma relação estreita junto com os espanhóis. Então o que a gente vai tratar lá é sobre essas primeiras instalações portuguesas dentro do território jesuíta e de como esses acontecimentos provocaram e criaram o que chamamos de desguaranização da fronteira, por conta de muitas catequizações na fundação das cidades”.